sexta-feira, 17 de junho de 2016

TCC "AS LÁGRIMAS DE UM PATRIMÔNIO: A BUSCA PELA IDENTIFICAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE DELMIRO GOUVEIA – AL."


JEFFERSON FELIX DOS SANTOS






As Lágrimas de um patrimônio:
A busca pela identificação e valorização do patrimônio arqueológico de delmiro gouveia – AL.




Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em Licenciatura em História da Universidade Federal de Alagoas como requisito parcial para obtenção da graduação em Licenciatura em História.

Orientador: Me. Flávio Augusto de Aguiar Moraes.














Delmiro Gouveia-AL
           2015



RESUMO


Os debates acadêmicos a respeitos do que venha a ser educação patrimonial, quais são as suas metodologias e como essas metodologias deveriam ser externadas a população de todos os níveis escolares e dos quais não frequentaram nenhuma sala de aula, e qual a contribuição do patrimônio na construção do eu enquanto ser social e pertencente a uma sociedade. A existência de mais de 19 sítios arqueológicos no município de Delmiro Gouveia-AL torná-lo-á em uma das mais importantes regiões com vestígios e sítios arqueológicos do alto sertão alagoano, como também pudera ser um dos centros turísticos mais visitados. Porém, ao contrario do que deveria ser o município de Delmiro Gouveia não apresenta nenhum aproveitamento desse patrimônio arqueológico, em nenhuma das suas potencialidades. Em virtude destes fatores este trabalho visa identificar quais os elementos que implicam na desvalorização do patrimônio arqueológico de Delmiro Gouveia-AL, como este patrimônio está sendo apresentado ou trabalhado nas salas de aulas, sobretudo, nas aulas de história, e de como o poder local, e os meios de divulgação externam a existência dos sítios arqueológicos e de sua importância para a memória local, quais os benefícios que a educação patrimonial traria para a comunidade de Delmiro Gouveia-AL, seja no campo do conhecimento, como também no campo do turismo, como o patrimônio contribuiria para o crescimento local.

Palavras-chave: Patrimônio; Educação Patrimonial; Memória e Identidade.





TRABALHO COMPLETO NO LINK ABAIXO!!

https://drive.google.com/file/d/0Byy16zLBaXPOMWJGbWdjQ0w3dG03UU5zaWdpbzFma08xZmVZ/view?usp=sharing

Escavação em Limoeiro de Anadia, Alagoas






segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Exercendo a Heresia



Jefferson Felix dos Santos[*]

Resumo
A perseguição aos judeus não se deu apenas pelo âmbito religioso, mas também pelo âmbito econômicos sendo os judeus acusados e condenados constantemente por qualquer mal que sobrevenham aos territórios pertencentes aos cristãos-velhos. Ao exercer o seu desenvolvimento econômico, os judeus também estavam exercendo a heresia, a heresia de crescer economicamente e intelectualmente, o medo de serem subjugados por aqueles que não seguem as leis de Cristo, as oportunidades econômicas apresentadas na nova colônia portuguesa e os incessantes ataques aos barcos portugueses provocados pelos protestantes ingleses, impulsionaram as visitações da inquisição portuguesa no Brasil. O presente trabalho tenta realizar um diálogo entra trabalhos realizados, propondo uma discussão sobre a importância dos judeus no desenvolvimento econômico do Brasil.
Palavras chaves: Judeus. Heresia. Inquisição.
1.      Múltiplos contextos
Para conquistar o trono português, Felipe II teve que passar por uma disputa acirrada, com a morte de D. Sebastião em 1578, o trono foi ocupado por se tio-avô, o Cardeal D. Henrique, este já tendo idade avançada e não possuindo filhos, após a sua morte em 1580, possibilitou no surgimento de um importante problema: quem assumiria o trono? Para resolver isso se candidataram seis pessoas: dois sendo de origem italiana; a rainha Catarina de Médicis; D. Antônio, prior do Crato; dona Catarina, duquesa de Bragança e o rei espanhol Felipe II, este com os dois últimos eram netos de D. Manuel I. A disputa ficou entre o rei Felipe II e D. Antônio, este, porém perdeu por ser bastardo. Após assumir o trono, o rei Felipe II, pois logo em prática as suas estratégias políticas objetivando a União Ibérica. Segundo Daniela Levy, “antes da decisão das Cortes portuguesas, no fim de junho de 1580, Felipe II invadiu Portugal com forte exercito para segurar a coroação” (p.28, 2008). Uma das medidas tomadas foi a formação do conselho português, este porém só era consultado quando lhe era conveniente, e a promessa realizada com o objetivo de respeitar a autonomia portuguesa, que também só era respeitada quando esta atendia aos interesses espanhóis,   e por ultimo as autoridades portuguesas na nova colônia, ( Brasil), não foram mudado.
O reinado de Felipe II foi, porém, bastante agitado pelas reformas protestantes, que uma vez por outra incidia contra o seu reinado. Como representante do catolicismo, Felipe II participou do movimento da contrarreforma, a sua dedicação religiosa estava associado aos interesses das estatais, para Costa:




As preocupações do soberano espanhol com a suposta pureza religiosa em seus domínios, ou seja, com o respeito à ortodoxia católica, aparentemente refletiam o seu medo frente às investidas inimigas realizadas contra os territórios ibéricos no ultramar  (COSTA 2007, p.28).
Uma das medidas tomadas por Felipe II para tentar solucionar este problema foi o entrelaçamento ideológico entre o Estado e a Igreja, nesta perspectiva, ambas trabalhariam juntas para monopolizar a nova colônia contra a propagação herética que circundava a colônia portuguesa, o aprisionamento através do convencimento ou da coação religiosa para Costa, “evangelização não se desenrolou no território brasileiro, baseada em discurso religioso universalista, doutrinário e guerreiro, foi condicionada pelo projeto colonial português, posto em pratica tendo como justificativa a expansão católica” (p.36, 2007). As principais medidas para combater os avanços das crenças protestantes foram a reorganização da inquisição romana em 1542; a realização do Concilio de Trento em 1545-1563; a publicação de Index de livros e autores proibido, entre estes está a Bíblia em linguagem; e a aprovação da Companhia de Jesus em 1540. 
Para Azzi, os lusitanos tinha uma concepção que vai além dos interesses econômicos, para ele os lusitanos incutiam a certeza de serem um povo seleto, escolhido para espalhar a verdadeira e genuína fé.
Importa ainda ressaltar que, na perspectiva ideológica dos lusitanos, a escolha divina não se limita apenas ao monarca, mas se estendia a todo povo. Os portugueses, de fato, consideravam-se como povo escolhido pó Deus para conservar e expandir a fé católica (AZZI, 1987. P.42).
No Brasil a Companhia de Jesus instalou-se em 1549, e tinha como caráter militante da Contra-Reforma obstinados a catequizar os nativos da nova colônia portuguesa, sendo missionários tiveram como suas principais armas o saber e o ensino. No final do século de XVI, instalaram-se também a ordem dos Beneditinos em 1581, primeiramente em Salvador; os Carmelitas em 1583 e os Franciscanos em 1585, que inicialmente se instalaram em Olinda; no século XVII chegaram também os Capuchinos, os Mercedários, os Carmelitas Descalços os Oratorianos e os Agostinianos e em 1820 os Lazaristas. A grande maioria sem deficientes em termos de instrução e que de forma desorganizada se distribuíam pelo solo brasileiro. Desta forma que houve a monopolização colonial, a Igreja doutrinava os novos cristãos e ao mesmo tempo contribuía para o fortalecimento do domínio da metrópole.
O constate perigo vivenciado nas rotas marítimas podem ser observados na provisão regia de 15 de dezembro de 1557, onde era ordenado a todos os navios portugueses navegassem abastecidos com artilharia armas e munições. As atuações francesas na baia de Guanabara entre 1555-1560, e no Maranhão português entre 1612-1615; bem como os ataques ingleses promulgando a pirataria nas rotas marítimas, sobretudo, nos barcos portugueses, resultou em tomadas de medidas emergências por parte do rei Felipe II. O crescimento econômico da metrópole devido à maximização da produção de cana de açúcar e a exportação da mesma possibilitaram nos referendos ataques sofridos pelos piratas ingleses, entre os anos de 1589 e 1591, graças a grande produção e exportação do comercio açucareiro no Brasil que cerca de sessenta e nove navios utilizados como transporte do produto foram atacados e capturados por corsários autorizados pela rainha Elizabeth I. Costa explica que,
Algumas ações empreendidas por estrangeiros no litoral brasileiro ficaram registradas na documentação inquisitorial referente à visitação de Heitor Furtado de Mendonça às capitanias de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba. Entretanto, através dos relatos produzidos a partir das narrativas dos confitentes não é possível dizer se tratavam de corsários que agiam sob autorização real ou de piratas que atuavam independentemente em suas investidas. De todo o jeito qualquer uma dessas ações minavam a autoridades luso-espanhola. (COSTA 2007, p.32).
Costa também irá dizer que em 26 de novembro de 1594, dez homens procuraram o inquisidor em Olinda para relatar que foram feitos prisioneiros no mar por ingleses ou por franceses. Um dos relatos exposto em sua pesquisa foi o de Miguel Dias de Paz, um mercador cristão, nascido na cidade do Porto e estante na vila de Olinda, este estava em uma caravela em 1593 que partiu da Bahia em direção a Olinda, quando foi atacada e capturada por ingleses luteranos a cem léguas do seu destino. Miguel ficou entre 13 ou 14 dias em nau inimiga até chegarem em terras Inglesas.
Em sua experiência ele rela que durante esses dias em Miguel e seus companheiros estiveram na nau inimiga, os ingleses luteranos realizaram duas cerimônias diárias, e nestas ocasiões não se encontravam cruz, imagens e nem retábulo, e todos liam livros enquanto outros respondiam em inglês.
Estas relações travadas com protestantes, confessadas pelos homens raptados por estrangeiros no mar eram claramente temidas por Felipe II. O alvará emitido por este monarca em fevereiro de 1591 ilustra as preocupações da Coroa a respeito das associações que poderiam se estabelecer entre idéias e prática herética e ameaças econômicas, (COSTA, 2007. p. 32).
Este alvará que costa fala refere-se ao um documento onde constam os danos causados pelos estrangeiros, onde são tomadas como formas de precauções contra as ideias e práticas heréticas e as ameaças econômicas.     
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2.      A inquisição e as perseguições aos judeus na Europa.
A inquisição foi um dos instrumentos político mais poderoso utilizado pela Igreja, embasada nos objetivos de uniformizar as crenças e práticas religiosas, combatendo e eliminando os cismas e as heresias. Para Azzi,
A hierarquia eclesiástica, aliada ao poder monárquico, passou a persegui com violência todos os que , pessoalmente ou em grupo, apresentassem interpretações diversas a respeito do credo. Não obstante, com muita frequência, interesses de natureza política ou econômica serviram de base para acusações versando sobre problemas religiosos. (AZZI  1987 p. 119).
Com a união ibérica os problemas da Espanha passaram a ser problemas de Portugal, para Levy essa união prejudicou as relações econômicas existentes entre Holanda e Portugal,
Com a subordinação de Portugal à Espanha, e com o estabelecimento da política repressiva de Felipe II contra Holanda, a liberdade de comercio entre holandeses que estivessem nos portos de seus domínios na Europa, África, Ásia e América. (LEVY 2008, p.28).
Os judeus sofreram também este impacto, a criação da inquisição, e, sobretudo, da inquisição espanhola o qual se demonstrou o mais cruel instrumento de perseguição. Na Espanha a ambiguidade vivida pelos judeus, torna-se tema de discussões nas pesquisas historiográficas. Com o Concilio de Latrão em 1215, as atividades profissionais exercidas pelos judeus foram restritas em diversas esferas sociais, porem estes eram constantemente solicitados em certos propósitos demonstrando uma convivência superficialmente amigável entre ambos. Os judeus ocupavam diversas ocupações, eles eram especialistas em navegação, médicos e financiadores bastante requisitados. Em contraponto os judeus eram, em todo o tempo de crise, fixamente acusados  de serem culpados pelos males ocorridos.
... As perseguições aos judeus ocorriam em momentos de crise, seguindo uma geografia delineada pelas dificuldades, sendo mais violenta nos locais onde estas eram maiores... os judeus foram responsabilizados pela Peste Negra (1348) e pelas más colheitas que atingiram a Europa (SILVA 2007, p.21).
Por outro lado na Holanda os católicos eram os responsáveis pelos males ocorridos, o que mostra os embates religiosos mais ferozes entre católicos e protestantes, do que entre protestantes e judeus.
A oposição aos católicos era mais forte do que a discriminação aos judeus. Quando havia alagamento na cidade ou algum outro desastre natural, as acusações dirigiam-se contra os católicos e não contra os judeus. Os católicos eram associados ao papado demonizado. (LEVY 2008, p.37).
A perseguição aos judeus não propõe ser um conflito totalmente religioso, mas uma união de interesses puramente econômicos pelos chamados de cristãos-velhos, que estavam perdendo espaço na economia ibérica para os judeus ascendentes de uma economia de exportação, como também produtores intelectuais. A imposição de bairros isolados, as perseguições constantes, e as conversões obrigatórias, era a realidade vivida pelos chamados de cristãos-novos na união ibérica.
A formação de uma nova classe denominada de judeus novos se deu pela pressão do momento em que viviam, pois estes queriam ter o respeito perante a comunidade, para Silva, “Muitas conversões se deram de repente, nos ataques as Aljamas[2]. Alguns fanáticos só paravam de atear fogo aos bairros judeus com a conversão de um bom número de seus habitantes” (SILVA 2007, p.32). Com o concilio de Basiléia de 1434, as proibições se intensificaram ainda mais, os judeus ficaram proibidos de serem médicos, de terem relações regulares com cristãos, de terem cristãos como criados, de habitar nos mesmos locais que os cristãos e foram obrigados a ouvirem as  pregações católicas. A atmosfera insuportável de convivência não abateu a luta e o crescimento dos judeus na união ibérica.
2.1. Inquisição e judeus vivencias com os holandeses na colônias portuguesas.
Como já foi possível observar, enquanto os judeus eram perseguidos, convertidos, e obtiveram restrições que os impediram de exercer suas profissões de manter relações como os cristãos bem como o direito de morar no mesmo lugar que eles. Na Holanda essa realidade torna-se contraria em alguns aspectos, os judeus tinha liberdade de exercer suas atividades econômicas, mantinham ótimas relações com os protestantes, obtiveram excelentes destaques na alta sociedade, e nas produções intelectuais, porém, eram constantemente instigados a se converterem ao protestantismo, o que demonstram certa pressão, não tão intensiva quanto na união ibérica, mas forte o bastante. A imigração dos judeus portugueses a Amsterdã, também foi um dos fatores a essa pressão pela conversão. O medo de esses se rebelarem contra os protestantes se aliarem aos católicos – neste caso essa união estar associado à figura de rei Felipe II, por estar em conflito com a Holanda, e por ser o representante o maior católico na união ibérica.
A ocupação dos judeus na nova colônia portuguesa se deu de duas formas. A primeira foi com o começo da colonização realizada pelos portugueses, os judeus viram a possibilidade de fugirem dos olhos da santa inquisição portuguesa, de obterem lucros com a exportação açucareira, segundo Schwartz:
Uma situação em certa medida de menor vigilância, além de uma estrutura mais aberta à ascensão social, o que tornava a colônia particularmente atrativa para os cristãos-novos. A indústria açucareira teve papel fundamental nessa atração (apud SILVA 2007, p.42).
A segunda se deu com a chegada dos holandeses em Recife em 14 de fevereiro de 1630. Os judeus tinham uma importante função, como cristãos-novos, eles falavam fluentemente o português como também o espanhol, servindo de guia e de intermediário nos negócios.  Os judeus passaram a ser financiadores da indústria de açúcar, corretores e exportadores açucareiros, sendo também donos de engenho e consequentemente donos de escravos.
Os cristãos-novos donos de engenhos eram proprietários de escravos, como todo senhor de engenho da época. Corria um boato na colônia, de que os escravos preferiam senhores judeus a portugueses ou holandeses, pois os judeus lhes davam dois dias de descanso por semana, enquanto os portugueses um só dia e os holandeses (com sua doutrina calvinista da valorização do trabalho) nenhum dia de descanso (LEVY 2008, p.45).
Com a vinda dos cristãos-novos, com os incessantes ataques ingleses aos bascos portugueses, o perigo holandês que objetivava a tomada das áreas da nova colônia portuguesa, com o trabalho de catequização dos índios e a luta pela conversão e repreensão dos negros. A Coroa teve que enviar a inquisição, para auxiliar os donos de engenhos portugueses na busca pelo controle ideológico, bem como também pelo interesse econômico propiciado pelo cultivo da cana-de açúcar.  As terras brasileiras foram inspecionadas pela inquisição em 1591-1595, 1618-1620 e 1763-1769. Onde sua principal atuação se dará, sobretudo, em Pernambuco, onde pela ocupação holandesa, obterá o maior numero de cristãos-novos vivendo junto com os judeus, aliando-se aos holandeses. A liberdade exercida pelos judeus, a construção de sinagogas, e as vastas propriedades de engenhos, acirrou ainda mais restrições e perseguições sofridas pelos judeus, fazendo com o que até a inquisição, segundo Levy, penetrasse no território holandês onde não tinha jurisdição e aprisionasse judeus, cristãos-novos para interrogatório...









Considerações Finais
Em todos os lados, tanto na perseguição mais feroz proporcionado pela inquisição portuguesa em sua jurisdição, quanto no território holandês, onde os judeus sofriam restrições, os interesses econômicos mostram-se, mas não unicamente, preponderantemente influenciador nas tomadas de decisão repreensiva contra os judeus, o que estava em jogo não era tão somente a ideologia religiosa, mas a ascensão nas esferas econômicas que as bases eram desestruturadas e direcionadas ao impedimento do avanço econômicos judaico, inferior religiosamente, e que a mesma devem permanecer economicamente inferior. O que predomina aqui é o medo. O medo de perder o poder, o medo de serem subjulgados pelos heréticos o que estar relacionado com a busca pelo divino através da perseguição aos chamados inimigos de Deus.
Referências
AZZI, Riolando. A Cristandade Colonial: mito e ideologia. Petrópolis – RJ: Vozes 1987.
COSTA, Leticia Detoni S. da. O que as Palavras Soam: Vivências religiosas na capitanias de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba em fins do século XVI. Recife 2007.
LEVY, Daniele Tonello. Judeus e Marranos no Brasil Holandes – Pioneiros na Colonização de Nova York, (século XVII). São Paulo 2008.
SILVA, Janaina Guimarães da Fonseca e. Modos de Pensar, Maneiras de Viver: Cristãos-novos em Pernambuco no século XVI. Recife 2007.
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[*] Graduando do curso de Licenciatura em História, pela Universidade federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão. E-mail: Jeffersonsantos.gf@gmail.com.
[2] Nome dado aos bairros judeus.

Resenha da Obra: As identidades do Brasil: de Varnhagem a FHC. de José Carlos Reis.


I – Identificação da obra

REIS, José Carlos. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. Editor Getulio Vargas, 2ª edição: Rio de Janeiro 1999, 278 pág.
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II – Resenhista:                                                                                                                       
Jefferson Felix dos Santos[1]


III - Credenciais do autor:

José Carlos Reis é historiador e filósofo, graduou-se em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1981), e fez mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987), e também em Filosofia pela Université Catholique de Louvain (1989). Seu doutorado em Filosofia pela Université Catholique de Louvain (1992), e pós-doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris, 1996/97) e pela Université Catholique de Louvain (Bélgica, 2007/08). Atualmente é professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de História, com ênfase em Teoria da História e História da Historiografia, atuando principalmente nos seguintes temas: epistemologia, temporalidade, historiografia brasileira, historiografia francesa. Concluiu nove orientações de mestrado e quatro de doutorado. É autor de onze livros entre eles estão: História da "Consciência Histórica" Ocidental Contemporânea: Hegel, Nietzsche, Ricoeur, (2013); Teoria & História Tempo Histórico, História Do Pensamento Histórico Ocidental E Pensamento Brasileiro, (2012); História, a Ciência dos Homens no Tempo, (2009); Nouvelle Histoire e o Tempo Histórico a Contribuição de Febvre, Bloch e Braudel. (2008); Historia & Teoria: Historicismo, Modernidade, Temporalidade e Verdade, (2005); Escola dos Annales: A Inovação em História, (2000).

IV – Apresentação da resenha

 As várias discussões que sobrepõe a percepção dos contribuintes da historiografia brasileira são reunidas pro Reis nesta obra, a mesma analisará os diversos autores que em momentos, contextos e estruturas diferentes vão proporcionar grandes avanços na analise da historia do Brasil e no seu desenvolvimento enquanto nação, tendo isso em vista Reis atribui a esses o papel de serem reanalisados e rediscutidos de forma mais precisa e contextualizada.   
Objetivando a compreensão do leitor a uma analise mais profícua dos contribuintes da historiografia brasileira, e as amarrações das ideias entrelaçadas as analises concisas e ramificadas as rupturas e continuidades, este trabalho propõe uma abrangência teórica a cerca desses contribuintes e de seus críticos e analíticos.
Para entrelaçar suas ideias, Reis vai acentuar-se a partir das reflexões teóricos de autores como Varnhagen 1850; Gilberto Freyre 1930; Capistrano de Abreu 1900; S. B. Holanda 1930; Nelson Werneck Sodré 1950; Caio Prado Jr. 1960; Florestan Fernandes 1960/70 e Fernando Henrique Cardoso 1960/70. Sendo conciso em sua escrita Reis irá  Metodologicamente, articular as fundamentações teóricas dos autores apresentados a partir das reflexões epistemológicas de seus críticos, esboçando um diálogo preciso entre os defensores e opositores e das teses criadas tendo como pilares fundadores as obras criadas pelos autores citados e pelos seus analistas.
A obra em estudo foi estruturada em duas partes: a primeira intitulada por O Descobrimento do Brasil está subdividida em dois capítulos o primeiro Anos 1850: Varnhagen: O elogio da colonização portuguesa, o autor faz uma explanação concisa da contribuição historiográfica de Varnhagen, de suas filiações teóricas bem como sua importância como historiador brasileiro, o segundo capítulo dessa primeira parte Anos 1930: Gilberto Freyre: O reelogio da colonização portuguesa rediscuti o aporte de Freyre visto como conservador por louvar a colonização portuguesa como necessária para o desenvolvimento do Brasil e exaltar a escravidão como ferramenta necessária para isso, por outro lado era também visto como revolucionário por fazer uma historia voltada as massas e não mais apenas a elite. A segunda parte intitulada por O redescobrimento do Brasil, Reis discutirá autores que levantaram um novo olhar para a historiografia do Brasil, em seu primeiro capitulo Anos 1900: Capistrano de Abreu: O Surgimento de um povo novo: o brasileiro, em precursor de Varnhagen apresentará uma nova discussão levando em consideração a relação entre classes e enaltecendo o papel do mameluco na construção da hegemonia brasileira. Reis dará seguimentos os seguintes capítulos: Anos 1930: Sérgio Buarque de Holanda: A superação das raízes Ibérica; Anos 1950: Nelson Werneck Sodré: O sonho da emancipação e da autonomia nacionais; Anos 1960: Caio Prado Jr: A reconstrução crítica do sonho de emancipação e autonomia nacional; Anos 1960-70: Florestan Fernandes: Os limites reais, históricos, à emancipação e à autonomia nacionais: a dependência sempre renovada e revigorada; F. H. Cardoso que em Anos 1960-70: Fernando Henrique Cardoso: Limites e possibilidades históricas de emancipação e autonomia nacional no interior da estrutura capitalista internacional: dependência e desenvolvimento onde Reis apresentará em cada capitulo, as biografias dos autores citados, suas filiações teóricas, seu críticos e analistas, suas características epistemológicas e suas produções bem como sua inovações e contribuições no campo da historiografia brasileira. Analisando os contextos e as entrelinhas de cada autor.
  



V – Disgesto

Em sua primeira parte “O Descobrimento do Brasil” José Carlos Reis irá dividi-la em dois momentos, o primeiro momento intitulado por “Anos 1850: Varnhagen: O elogio da colonização portuguesa” irá discorrer sobre a importância da contribuição historiográfica de Varnhagen como um descobridor do Brasil, sendo um brasileiro por naturalidade, mas português por criação, Varnhagen recebeu influencia alemãs, segundo Reis, graças a sua origem paterna alemã. Em sua obra “História Geral do Brasil”, Varnhagen foi muito elogiado por ser uma obra cheia de informações no que concerne a visão politica-administrativa da Coroa no Brasil, nesta perspectiva Reis irá exemplificar com dois historiadores que defende a obra de Varnhagen, o primeiro é J. H. Rodrigues este afirma “ninguém pode graduar-se em história do Brasil sem ter lido Varnhagen” (p.29), outro autor é A. Canabrava também defensor afirmava que sua “obra é o monumento da história brasileira do século XIX” (p.29). Para N. Odália a obra de Varnhagen é uma obra sem contribuição, pois esta não mostra as tensões ocorridas durante a colonização. Capistrano irá obsevar da mesma forma, esta neutralidade de Varnagen e o seu enaltecimento da colonização dos portugueses, bem como o desprezo pelos índios e mais ainda pelos negros trazidos como escravos para o Brasil. Para Varnhagen os índios eram bárbaros, medíocres sem nenhum pudor desprovido de qualquer civilidade, e a suas mulheres eram escravas da sua barbárie, já os portugueses eram civilizados, caridosos e superiores que levou para os bárbaros a civilização necessária para que o Brasil fosse visto como uma nação. Sendo um historiador das elites Varnhagen as bajulavam e intentava a todo custo projetar uma história unitária, que proporcione a unidade do reino e por isso via na colonização portuguesa a esperança de uma nação forte e superior, civilizada ao ponto de proporcionar a “evolução dos indivíduos bestiais.”.                  
 Sob o título “Anos 1930: Gilberto Freyre: O reelogio da colonização portuguesa”, o segundo momento desta primeira parte, Reis irá analisar a contribuição de Gilberto Freyre, sobretudo em sua obra “Casa Grande & Senzala” em 1933, com descobridor do Brasil, sendo pernambucano Freyre nasceu em 1900, e escreveu grandes obras, entre elas as que mais se destacaram foram Sobrados & Mocambos em 1936, Ordem & Progresso em 1959 e Casa Grande & Senzala obra discutida neste capítulo. Freyre é conhecido como um neovarnhageniano, pois este bebeu das mesmas perspectivas teóricas de Varnhagen  sendo um conservador que enaltecia a colonização portuguesa como um processo primordial para o crescimento do Brasil, mas diferentemente de Varnhagen, Freyre não destituía a contribuição dos índios e principalmente do negros escravos nesse papel, ao contrário, Freyre via na miscigenação entre as diferentes culturas o fortalecimento e o surgimento de uma raça miscigenadamente pura, onde dos seus frutos nasciam brasileiros mais fortes, mas adaptados aos diferentes meios naturais oferecidos pelo vasto território brasileiro. Para Freyre era através das relações amorosas que se deva a construção de uma nova classe. O espaço observado por Freyre é a casa grande e a senzala, para ele essa mistura ocorreu de forma harmoniosa e pacifica sem rupturas sem truculências, as escravas gostavam de serem estrupadas, era uma maneira de condescenderem à vida civilizada, sair da senzala e ir para casa grande. É diante dessa perspectiva que os marxista tecem sua criticas a Freyre por não discutir as tensões de classes existentes entre os senhores e os escravos, é nessa neutralidade que Freyre é visto como um conservador, por denotar uma saudade do antigo sistema colonial, e resistir a modernidade que pairava sobre o Brasil, mas por outro lado ele é visto como um revolucionário por ser um dos primeiros a escrever a história das massas e não tão somente das elites Freyre teve sua importante contribuição historiografia brasileira, e sua obra é referência nas instituições norte americanas no que concerne os estudos sobre a história do Brasil.         
Em sua segunda parte com o título “O redescobrimento do Brasil”, Reis inicia com “Anos 1900: Capistrano de Abreu: O Surgimento de um povo novo: o brasileiro”, Reis discorrerá sobre uma nova visão elucidada por Capistrano no que concerne a história do Brasil e suas múltiplas interpretações. Capistrano de Abreu nasceu em 1853, no sítio da Columinjuba, em Maranguape, Ceará. Sendo criado em condições diferentemente de Varnhagen, Capistrano de Abreu caminhou em dois campos teóricos o positivismo e o historicismo cientificista, para P. M. Campos “Capistrano nunca teria proposto uma explicação unilateral da história, mas sempre percebeu a interdependência das diversas instâncias sociais” (p.91). Embora precursor das analises historiográficas de Varnhagen, e muitas vezes opositor, Capistrano trará uma nova análise, principalmente em sua obra “História Colonial”, como redescobridor ele irá colocar nas suas entre linhas a relação entre classes, existentes entre o colonizador português, os índios e os escravos negros, “Ele não fez uma história político-administrativa ou biográfica, mas procurou apreender a vida humana na multilateralidade de seus aspectos fundamentais. Sua visão da história não atribui predominância a um fator sobre outros; ele a vê como um conjunto complexo de fenômenos humanos” (p.95). Em “Anos 1930: Sérgio Buarque de Holanda: A superação das raízes Ibérica”, Reis nos revelará a vida e importância de S. B. de Holanda este nasceu em 1902, em São Paulo, teve influencias Weberiana e foi um dos maiores intelectuais de sua época, sendo um dos mais requisitados pelas universidades, museus nacionais, bibliotecas etc. Sendo formado em direito, mas não exercendo sua profissão, S. B. Holanda se debruçou em entender nas entrelinhas das relações a origem da nação brasileira e o idealismo pela ruptura das relações entre o brasileiro e o neoportuguês– o primeiro como um novo ser, como um cidadão desprovido de qualquer ligação lusa, o segundo embora brasileiro ainda mantenha relações culturais com os portugueses. Diferentemente de Gilberto Freyre, S. B. Holanda vai desprezar a colonização portuguesa como principal precursor do desenvolvimento brasileiro, vai lamentar o fracasso da miscigenação, pois esta não conseguiu apagar a predominância portuguesa. S. B. Holanda produziu várias obras entre elas Caminhos e fronteiras (1957), Visão do paraíso (1959), entre outras. A massa anônima e o seu cotidiano será os atores principais dos estudos S. B. Holanda, a sua analise desvaloriza a importância do patrão e observa a ação dos sujeitos e sua materialização. Em sua obra Raízes do Brasil será abordado de forma mais pormenorizada essas relações, sobretudo a viabilização de uma discussão sobre o significado do termo neoportuguês, e a caracterização dos chamados ibéricos. Discutindo sobre as rupturas S. B. Holanda analisará essas mudanças a partir das transformações urbanas advindas através da industrialização com rompimento com antigo sistema político-administrativo, por isso este autor e considerado com um redescobridor do Brasil.
“Anos 1950: Nelson Werneck Sodré: O sonho da emancipação e da autonomia nacionais”, nascido em 1911, Sodré foi militar, professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exercito de 1948 a 1950, foi diretor de História do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), entre as suas produções destacam-se Introdução à revolução brasileira (1958), Formação histórica do Brasil (1962), As raízes da Independência (1965) e História da burguesia brasileira (1964). Sodré desenvolveu em suas obras bases para a solidificação de uma nova perspectiva marxista, ligado ao PCB e sendo influenciado pelas teorias do marxismo-leninismo, irá proporcionar o surgimento de novos sujeitos, esses são será representados pelas dimensões das lutas entre classes, Sodré irá observar essa peculiaridade também nas relações entre o senhor de engenho e o escravo, “O caminho para o socialismo no Brasil exigiria passar primeiro pela etapa da revolução nacional e democrática, que eliminaria os restos feudais, libertaria o povo da opressão do latifúndio, expulsaria o imperialismo e fundaria uma sociedade democrática” (p.153); esse era o ideal de Sodré e do PCB. Os seus críticos divergiam-se sobre a tese de Sodré que se baseava no feudalismo, como um sistema ainda predominante, embora com um novo disfarce, no sistema político brasileiro. Em suas obras Sodré expressava seus anseios por mudanças profundas no Brasil, em um tempo de opressão e autoritarismo sofrido 1964. Nos “Anos 1960: Caio Prado Jr: A reconstrução crítica do sonho de emancipação e autonomia nacional”. Nascendo em São Paulo em 1907, Caio Prado Jr. Veio de uma família nobre e revolucionou as concepções marxista no que concerne as antigas analises realizadas encima das lutas de classes no Brasil, formado em direito e geografia, passou a lutar pela liberdade e igualdade sendo um grande contraste se levar em consideração a sua posição aristocrata, em sua maiores produções se encontram a Evolução política do Brasil (1933); Formação do Brasil contemporâneo (1942); História do Brasil (1945) e A revolução brasileira (1966). Suas produções causam nostalgia nos defensores de suas teses, para Reis ele “inaugurou um estilo de pensar a realidade brasileira, uma perspectiva crítica, que inaugurou um estilo de pensar entre o passado e o presente e examina as possibilidades de mudanças no futuro” (p.175).  Reis ironiza o seus críticos chegando a afirmar que os mesmos se embaraçam ao tentar estruturar alguma critica sobre suas obras o conceituando como economicista. Em a Revolução brasileira Caio Prado Jr. antes de qualquer coisa, tenta conceituar o termo revolução, para ele revolução não esta no caráter violento, mas nas transformações estruturais em um curto período. Visto como um dos redescobridores do Brasil, pois, em suas analises ele via que tanto o “proletariado urbano e o campesinato têm papel fundamental se se mantiveram autônomos em ação revolucionaria” (p.201).
Em “Anos 1960-70: Florestan Fernandes: Os limites reais, históricos, à emancipação e à autonomia nacionais: a dependência sempre renovada e revigorada”. Florestan Fernandes nasceu  em 1920 na cidade de São Paulo, sendo órfão de seu pai teve que trabalhar para se sustentar-se a se a  sua mãe, foi um dos fundadores do partido dos Trabalhadores, em uma de suas problematizações ele levanta o problema da readaptação dos teóricos que saem do Brasil para se especializarem no exterior “... o cientista social brasileiro deveria primeiro amadurecer aqui, para só depois se aperfeiçoar no exterior” (p.204),  F. Fernandes recebeu influencias teóricas weberiana e de Mannaheim o que o deixou mais conciso em suas produções. Ele defendia uma sociologia que proporcionasse transformações da realidade, uma sociologia militante, voltado para rupturas F. Fernandes pensava em mudanças sociais, em sua obra A revolução burguesa n Brasil ele analisa a estruturação  e concretização do capitalismo no Brasil e por isso  E. Viotti da Costa vai dizer exemplificar a importância desta obra dando três aspectos  merecedores de analises consistente na pagina 214. F. Fernandes deu grandes contribuições para a historiografia brasileira e foi orientador e influenciador de outro grande historiador e prestigiado “F. H. Cardoso que em Anos 1960-70: Fernando Henrique Cardoso: Limites e possibilidades históricas de emancipação e autonomia nacional no interior da estrutura capitalista internacional: dependência e desenvolvimento”.  Sua origem se deu no Rio de Janeiro em 1931, sendo filho e neto de generais F. H. Cardoso nasceu e cresceu em uma família economicamente prestigiada formou-se em ciências sociais, foi professor auxiliar, assistente, livre docente e emérito do Departamento de Sociologia da USP. F. Weffort o considera como “um virtuoso de ideias, um pensador critico e autocrítico” (p.236), sendo privilegiados por varias universidades, e participantes de um dos momentos de represaria nacional FHC proporcional grandes debates e analises, sobretudo criticas voltada para a sua tese de dependência, para esta a analise das estruturas econômicas e sócias incutida na dominação de classes e grupos sociais era uma analise mais pormenorizada das imposições políticas nas relações de dependência. Recebendo influencias de Weber, F. H. Cardoso irá apresentar a suas teses de dependência em sua obra Dependência e desenvolvimento na América Latina. Por esta discutindo essas relações de classes e exploração FHC é visto como um teórico marxista e não tão somente por isso é ovacionado como um grande intelectual.
                              

VI – Crítica do resenhista

Tendo uma linguagem concisa e corrida o texto de José Carlos Reis, é uma obra prima por trazer grande contribuição ao nosso conhecimento a cerca dos aportes dos magistrados influenciadores da historiografia brasileira, tendo em vista o seu desenvolvimento e sua persuasão, nas leves criticas e elogios que Reis atribuem aos autores por ele analisados referencio como uma obra primordial para os pesquisadores engajado em compreender as estruturas teóricas da historiografia do Brasil.

VII – Indicação do resenhista

Por ser uma obra primorosa para o entendimento das contribuições historiográficas que diversos autores em tempo, e lugar diferente propuseram em materialização de sua subjetividade, e por ter uma linguagem clara, está obra é indicada para professores de história, alunos do curso proposto e leitores que queiram mergulhar no extenso mundo da história.  




[1] Graduando o 6º período em Licenciatura em História pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão.

Casa Grande e Senzala: Uma nova visão do Brasil

Casa Grande & Senzala: uma nova visão do Brasil






Jefferson Félix dos Santos[1].








Resumo

Casa Grande & Senzala, foi uma das maiores obras de Gilberto Freyre, sendo considerada uma das maiores referencias no estudo da historia do Brasil, no exterior. Sendo criticado como conservador e ovacionado como revolucionário Freyre, trouxe para a historiografia uma nova visão do cotidiano e das relações privadas como formas de entender as teias de interações sociais e políticas que propiciaram o desenvolvimento do Brasil. Nesta perspectiva pretende-se trazer uma abordagem sunsita do livro Casa Grande & Senzala, mostrando em um resumo modesto as novas veredas que a historiografia brasileira tomou, graças à contribuição de Gilberto Freyre.  





Palavras-chave: Negro, Miscigenação, Português.  


















Gilberto Freyre Conservador, Revolucionário ou os dois!
  

Uma discussão mãos profícua é merecedora da importância de Gilberto Freyre como um descobridor do Brasil e como o instituidor de uma nova metodologia de analise historiográfica da história do Brasil. Para Merquior, o que Freyre fez foi um radiografia do passado, para Reis, “O que ele produziu foi uma revivencia do nosso passado em seu espírito e no espírito do leitor.” (REIS 1999, p.57). Com uma forma de escrita sensual, Freyre encanta os leitores com seu estilo coloquial transformando sua obra em uma conversa entre o presente e o passado, um passado em que ele sente falta e aspira o seu retorno. Em uma analise sobre as contribuições de Freyre e Braudel, Peter Burke reflete,
“Na década de 30, Freyre refletiu sobre a história cultural da rede e da cadeira de balanço, símbolos da voluptuosa ociosidade que os brasileiros em geral – ele sugeriu – herdaram dos colonos de Pernambuco (cf. Freyre, 1933; 1937 p. 219). Tópicos como esses, que haviam sido considerados superficiais ou triviais, foram vistos por ambos historiadores como chaves para as estruturas subjacentes às diferentes culturas.” (BURKE 1997, p.3).

Para os marxistas Freyre era considerado um conservador, pois via na colonização o escape do Brasil para uma nação prospera, sempre enaltecendo o português como o salvador do Brasil, sem deixar de lado a importância do papel dos escravos como instrumentos de fertilização para a produção de uma raça mais adaptadas as exigências naturais da nova terra, porém não fazendo uma discussão sobre as contradições existentes entre ambas as classes e suas lutas.  “Freyre apagaria as tensões, as agudas contradições reais, que caracterizam as reações sociais entre senhores e escravos” (REIS 1999, p.59). A análise de Freyre vai ser voltada para as relações amorosas entre o senhor da casa grande e as escravas da senzala, é no cotidiano que Freyre irá voltar sua atenção, debruçando-se sempre para a culinária, os cantos, as danças os prazeres... 
De modo geral podemos comparar o interesse de Freyre pela história do cotidiano social, como ele ocasionalmente a chamou, com a preocupação corrente com o cotidiano, e seu interesse na história íntima com o que os historiadores franceses Georges Duby e Philippe Ariès chamaram histoire de la vie privée(cf. Freyre, 1975, p.147). Embora não tenha usado o termo “mentalidades”, Freyre certamente esteve interessado em “ethos” e “valores”. (BURKE 1997, p. 4).

Por outro lado Freyre é considerado como um revolucionário por ser o primeiro a construir uma historia das massas, uma historia em que vai analisar o papel do negro e do índio como agentes decisivos para a construção de uma nova nação. “Ao ser menos critico em relação ao passado, tornou-se paradoxalmente revolucionário: ele integra os excluídos do passado em uma visão do Brasil. Os negros, os índios, a miscigenação, os brancos pobres, a cultura popular...” (REIS 1999, p.60).
Em suma, sendo conservador e ao mesmo tempo revolucionário Freyre trouxe novas perspectivas historiográficas brasileiras, sendo referencia no exterior.  


Casa Grande & Senzala


Em sua majestosa, Freyre vai detalhara formação de uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica e híbrida de índio (mais tarde o negro) na formação de sua composição étnica. Um dos três pontos que Freyre coloca no seu livro, dentro dos parâmetros da colonização portuguesa no Brasil, é o que diz respeito à miscibilidade do português. O português tinha a capacidade de se misturar facilmente com outras raças. Os homens vinham sem famílias, sozinhos, chegavam carentes de contato humano. Com isso houve a reprodução através das índias e depois com as negras escravas. Era preciso povoar o território. No momento que embarcou na aventura ultramarina, Portugal tinha 3 milhões de habitantes.  Outro ponto que o autor coloca como condição que favoreceu o português na conquista foi à chamada aclimatabilidade. Portugal recebia ventos secos vindo do norte da África, assim, seu clima era aproximado ao africano. Nesse sentido, o Português chegando aqui não sentiria grandes mudanças, no tocante ao clima tropical.
Gilberto Freyre, ainda sobre o clima, afirma um fator preponderante: o português no Brasil teve de mudar quase radicalmente o seu sistema de alimentação. O clima tropical e a forma agressiva de vida vegetal e animal impossibilitavam a implantação de uma cultura agrícola nos moldes do costume europeu. Assim, o português teve então de mudar seus hábitos alimentares, a mandioca substituía o trigo; no lugar das verduras o milho e as frutas davam um colorido novo na mesa dos colonizadores. Mas sua dieta ficava empobrecida devido a ausência de leite, ovos e carne que só apareciam na mesa em datas especiais, como festas e comemorações. Freyre argumenta que foi a partir das grandes plantações de açúcar, que a sociedade colonial no Brasil, principalmente em Pernambuco e no Recôncavo baiano, desenvolvia-se patriarcal e aristocraticamente. Nestas áreas a colonização além de se desenvolver a supra das grandes plantações de açúcar, desenvolvia-se as casas-grandes de taipa ou de pedra-cal. Assim, ele diz:
A casa-grande do Engenho, que o colonizador começou ainda no séc. XVI levantar no Brasil - grossas paredes de taipa ou de pedra em cal, telhados caídos, no máximo de proteção contra o sol forte e as chuvas tropicais - não fora nenhuma reprodução das casas portuguesas, mais expressão nova do imperialismo português. (FREYRE 1996, p. 110).

Era dentro da casa-grande que se formava a mola propulsora da formação social brasileira: a família colonial. O processo de equilíbrio de antagonismos que Freyre coloca entre o branco e o negro: ambos se misturavam no interior da casa-grande e alteravam as relações sociais e culturais criando um novo modo de vida do séc. XVI.
·         As relações de poder, a vida doméstica e sexual, os negócios e a religiosidade formavam na dia-a-dia a base da sociedade brasileira.
·         A casa-grande abrigava uma rotina comandada pelo senhor de engenho, cuja estabilidade patriarcal estava baseada no açúcar e no escravo. Sob seu teto viviam os filhos e as mulheres que fundamentariam a colonização portuguesa no Brasil. Embora diretamente associada ao engenho de cana e ao patriarcalismo nortista, a casa grande não era exclusiva do senhor de engenho, pois, podia ser encontrada na paisagem do sul do país, nas plantações de café, como uma característica da cultura escravocrata e latifundiária do Brasil.

Para Freyre, os portugueses não traziam para o Brasil nem separatismos políticos nem divergências religiosas e os colonizadores não se preocupavam com a pureza da raça. Assim o país se formava e a unidade dessa grande extensão territorial com profundas diferenças regionais garantidas muitas vezes com o uso da força, aconteceu devido à uniformidade da língua e da religião.  Mas durante todo o séc. XVI, a colônia esteve aberta para estrangeiros com uma observação: que fossem de fé ou religião católica. O que barrava o imigrante era a heterodoxia, acrescenta Freyre, pois, temia-se no adventício acatólico. Assim, ao longo dos séculos, o catolicismo firmou-se no Brasil transformando-se no cimento de nossa unidade.  A Igreja como já se sabe, desenvolvia planos ambiciosos de evangelização da América todos ocupados por países de tradição católica.
·         Para catequizar os índios, os jesuítas decidiam vesti-los e tirá-los de seu habitat, já o senhor de engenho tentavam escravizá-los. Nos dois casos o resultado era o extermínio e a fuga dos primitivos para o interior.
·         A sociedade brasileira entre todas da América é a que se formava com maior troca de valores culturais. Havia o aproveitamento de experiências dos indígenas pelos colonizadores.
·          A reação dos índios à dominação do colonizador era quase contemplativa. O português usava o homem para o trabalho e a guerra, principalmente, na conquista de novos territórios e a mulher para a geração e formação da família. Esse contato provocava o desequilíbrio das relações com o índio e seu meio ambiente. É como justifica Freyre:

A grande presença índia no Brasil não foi à do macho, foi a da fêmea. Essa foi a presença decisiva, a mulher índia tomou-se de amores pelo português, talvez até por motivos fisiológicos. A índia mulher teve um grande papel na formação do Brasil( FREYRE 1996,  p.170).

A união do português com a índia gerou mamelucos que atuavam como Bandeirantes. O mameluco e o índio que excediam o Português defendiam o patrimônio do senhor do engenho contra o ataque de piratas estrangeiros, nunca firmaram as mãos na enxada, não se fixaram na plantação de açúcar.  As crenças e as magias marcavam a vida da colônia. A Poligamia e a sexualidade da índia iam de encontro com a voracidade do português. Ainda falando da inadequação do índio a escravidão, tanto a Igreja quando o senhor de engenho fracassavam nos esforços de enquadrar o índio no sistema de colonização que iria criar a economia brasileira. Fora de seu habitat natural o índio morria de infecções, fome e outros. Para suprir a deficiência da mão-de-obra escrava os senhores de engenho de Pernambuco e do Recôncavo baiano, começava a importar negros caçados na África.  Agora as escravas negras substituíam as índias tanto na cozinha como na cama do senhor e a presença do negro na agricultura elevava a produção de açúcar e o preço do produto no mercado internacional.

Os portugueses davam uma contribuição criativa ao novo mundo, com a produção do açúcar e implantavam um sistema econômico que aprenderam com os mouros durante a ocupação da Península Ibérica. Os mouros de grandes tradições agrícolas introduziram a laranjeira, o limoeiro e a tangerina e implantaram a tecnologia do fabrico do açúcar em Portugal.
·         Essa contribuição criativa é que diferenciava o Português do Holandês e do Francês, que para cá só traziam aperfeiçoamentos tecnocráticos.
·         O movimento dos Malês na Bahia em 1835, foi considerado um desabafo da cultura adiantada que era oprimida por outra menos nobre. Contava-se que os revoltosos sabiam ler e escrever em alfabeto desconhecido. Eram negros que liam e escreviam em árabe.
·         O Brasil importava da África não somente o animal de tração que ficava nos canaviais, mas também técnicos para as minas, donas de casas para os colonos, criadores de gado e comerciantes de panos se sabão.

O choque das duas culturas: a europeia e a ameríndia no Brasil colônia se dava mais lentamente não por meio da guerra, mas, nas relações entre homem e mulher. A igreja ganhava no Brasil capelas simples dentro do complexo arquitetônico da casa grande, lá moravam o capelão e dela tirava o seu sustento e essa mesma igreja através dos jesuítas partia maciça e indiscriminadamente para a catequização dos índios. Para os padres da Companhia de Jesus, os índios acreditavam em tudo e aprendiam e desaprendiam os ensinamentos rapidamente. Havia uma grande quantidade de aldeias espalhadas pela floresta que falavam diferentes línguas, era preciso unificar as tribos para poder pregar a doutrina católica. O menino indígena servia de intérprete para os jesuítas, que aprendiam com eles as primeiras palavras em tupi. Os padres poderão então escrever uma gramática unificando a língua dos tupis. Estava criado o tupi-guarani.
 A sociedade colonial não era em geral uma sociedade bem alimentada, pois havia um contraste entre os brancos das casas grandes e os negros das senzalas. Freyre ainda diz que “na formação da nossa sociedade, o mau regime alimentar, agiu sobre o desenvolvimento físico do brasileiro posteriormente”. Ressaltando a ação da sífilis no Brasil: a marca da sífilis ostentava uma “ferida de guerra.” Essa sifilização do Brasil, resultou dos primeiros encontros de europeus com índios. “De todas as influências sociais talvez a sífilis tenha sido depois da má nutrição, a mais deformadora da plástica e a mais depauperadora da energia econômica do mestiço brasileiro”. (FREYRE 1996 p.402).

Um ponto no qual Freyre é um pouco polêmico é o que diz respeito ao intercurso sexual entre o europeu e a mulher índia. O autor afirma que houve uma espécie de sadismo do branco e de masoquismo da índia ou da negra.  Os negros eram um elemento ativo, criador e pode-se dizer um elemento nobre na colonização do Brasil. Degradados apenas a condição de escravos. O negro escravo e a cana-de-açúcar fundamentavam a colonização aristocrática. O canto e a dança dos escravos tornavam-se a casa grande mais alegre. Na religião convivia a cultura do senhor e do negro. O catolicismo praticado aqui era uma religião doce, doméstica e de intimidade com os santos. Os padres concediam aos negros certas vantagens como o direito de manifestar suas tradições nas festas do terreiro. Nasciam então às religiões afro-brasileiras, São Jorge é Ogum e Nossa Senhora é Iemanjá. Os negros começavam a lutar pelo fim da escravidão O senhor de engenho era um homem extremamente rico e poderoso passava a maior parte do tempo deitado na rede.




Considerações finais

A obra clássica de Gilberto Freyre sem sombra de duvida é um referencial teórico para os que pretende estudar a história do Brasil, mesmo sendo visto por uns como conservador e por outros um revolucionário, não há se quer uma obra tão válida e emblemática como Casa Grande & Senzala no tocante ao cotidiano e as intimas relações ocorridas entre o senhor e os escravos, mesmo sendo com um olhar tendencioso instigado nas entre linhas de Freyre, mas que nos trás uma outra perspectiva de como fazer história, utilizando não uma linguagem academicamente europeia, mas uma linguagem legitimamente  e sobre tudo brasileira.



Referenciais

BURKE, Peter. Gilberto Freyre e a nova história.Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 9(2): 1-12, outubro de 1997.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Record, 1996.

MOTTA, R. C. A intuição da história. In: Gilberto Freyre na UnB. Brasília, UnB 1981.

REIS, José Carlos. Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Editora Getulio Vargas, 1999.

VENTURA, R. Casa-grande e Senzala: ensaio ou autobiografia? Literatura e
Sociedade, S„o Paulo, n.6, p.212-222, 2001-2002. 






[1] Graduando no 6º período em Licenciatura em História pela Universidade federal de Alagoas – UFAL Campus do Sertão.